As doenças cardíacas são a principal causa não obstétrica de morte materna no Brasil, atingindo cerca de 4% das gestações. É o que revela uma pesquisa compartilhada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), que estima que 40% dessas mortes poderiam ser evitadas com maior compreensão dos riscos da gravidez.
O estudo acompanhou 638 gestantes com diferentes diagnósticos: doença valvar (37,8%), cardiopatias congênitas (35,7%), arritmias sem lesão estrutural (14,7%) e cardiomiopatias (11,3%). As complicações mais comuns foram insuficiência cardíaca (16,7%), arritmias (10,7%) e síncope (8%), com 18 óbitos registrados, sendo a maioria (10) no puerpério, considerado um período crítico.
Para os pesquisadores, esse cenário está ligado a fatores como o aumento da prevalência de riscos cardiovasculares em mulheres jovens, o adiamento da maternidade para idades mais avançadas e a maior sobrevida de pacientes que apresentaram doenças cardíacas desde a infância.
As transformações fisiológicas que acontecem durante a gestação também ajudam a explicar a sobrecarga para o coração nessa fase. Segundo informações da Rede D’Or, maior operadora independente de hospitais do Brasil, desde os primeiros meses de gestação há aumento do volume de sangue, dilatação dos vasos, aceleração dos batimentos cardíacos e queda da pressão arterial. A rede hospitalar destaca que essas mudanças contribuem para levar mais oxigênio e nutrientes ao bebê, de forma que não traga consequências para a mãe.
O cardiologista Elzo Mattar, em entrevista à imprensa, ressalta que o volume de sangue presente no corpo da mulher pode crescer até 50% para suprir as necessidades da placenta e do feto. Dessa forma, o coração acaba trabalhando mais, o que faz com que o ritmo cardíaco acelere e possa aumentar a pressão arterial.
“Algumas gestantes desenvolvem condições como pré-eclâmpsia, hipertensão gestacional ou cardiomiopatia periparto — que é uma forma rara, mas grave, de insuficiência cardíaca, que pode surgir no final da gestação ou logo após o parto”, acrescenta o médico.
Entre elas, a pré-eclâmpsia merece uma atenção especial, caracterizada como um quadro clínico de altos níveis de pressão arterial em mulheres grávidas. Segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a condição é responsável por até 15% das mortes maternas diretas no mundo e apresenta potenciais complicações como acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência renal e parto prematuro.
A Febrasgo destaca que essas complicações reforçam a necessidade da vigilância e do controle adequado da pré-eclâmpsia para preservar a saúde e a segurança da mãe e do bebê ao longo da gestação e do parto. Por isso, o acompanhamento médico desde a descoberta da gravidez é considerado fundamental.
É possível buscar informações sobre profissional obstetra na cidade do Rio de Janeiro e em outras localidades do país por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), plano de saúde privado, indicações de familiares e dados na internet.
Fatores de risco devem ser rastreados
A recomendação da Febrasgo é que seja realizado o rastreamento de todas as gestantes para identificar as que têm risco aumentado da doença para que possam ser realizados medidas preventivas e monitoramento.
Além disso, é importante que as mulheres que já apresentem histórico de cardiopatia ou fatores de risco busquem acompanhamento antes mesmo de engravidar. No entanto, de acordo com os dados presentes no estudo compartilhado pela SBC, somente 32,2% afirmaram ter planejado a gravidez e 64,9% tiveram orientação sobre os seus riscos.
Entre as grávidas cardiopatas, o ideal é que haja ainda um acompanhamento multidisciplinar, incluindo tanto o acompanhamento com ginecologista obstetra, tanto com uma consulta com cardiologista no Rio de Janeiro ou demais localidades.
Principais cuidados que devem ser tomados durante a gravidez
Para que o coração consiga se adaptar às mudanças da gravidez, são necessários cuidados. Segundo a Rede D’Or, na reta final da gestação, uma recomendação importante é priorizar deitar do lado esquerdo, pois a posição evita a compressão dos vasos sanguíneos pelo útero e melhora o fluxo de sangue para o coração.
Além disso, é fundamental manter uma rotina equilibrada. A rede hospitalar destaca que a alimentação deve ser saudável e controlada, sem ganho de peso excessivo, já que o coração precisa trabalhar mais quando há aumento superior a 12 quilos. Também é preciso manter a hidratação para ajudar com toda a mecânica cardiológica, pois o volume de líquidos dentro dos vasos cresce até 50% durante esse período.
A Rede D’Or indica, ainda, a prática regular de atividade física, supervisionada por um profissional capacitado. O cuidado também é reforçado pela Febrasgo, que recomenda exercícios de intensidade moderada, como hidroginástica, caminhada rápida e treino de resistência, totalizando pelo menos 140 minutos de atividades semanais.
Também estão entre os cuidados recomendados a redução do estresse, que pode elevar a pressão arterial e acelerar os batimentos cardíacos e evitar substâncias prejudiciais, como tabaco, álcool, excesso de cafeína e medicamentos sem prescrição.


