A transição energética está se acelerando e não ocorre isoladamente. Demanda inspiração, direção e uma visão clara do futuro. Este processo envolve a adoção rápida de tecnologias de eficiência energética e energia renovável. Exige uma inovação sistêmica para integrar e potencializar as sinergias de pesquisa entre todos os envolvidos: tecnologia, políticas, mercado e financiamento.
De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), espera-se que a matriz energética do Brasil seja 50% renovável até 2030, conforme detalhado no Caderno Energia e Meio Ambiente, parte dos estudos para o Plano Decenal de Expansão de Energia 2032. Dentro deste contexto, merece destaque a energia eólica, uma das fontes renováveis mais promissoras do país.
As usinas eólicas, com uma capacidade de produção de cerca de 25 gigawatts (GW), são consideradas fundamentais para acelerar a transição energética e promover a geração de energia limpa.
Usinas eólicas offshore e seus principais desafios
Os parques eólicos offshore representam uma inovação significativa na indústria eólica. A instalação de turbinas em águas profundas aproveita ventos mais fortes e constantes, sem obstruções, beneficiando a produção energética e revitalizando comunidades costeiras, além de aproximar a geração de energia dos centros de consumo.
O Brasil tem condições favoráveis para liderar a indústria de usinas offshore. Estima-se que o potencial técnico de geração por eólicas offshore no Brasil seja de 700 GW, o que equivale a 50 hidrelétricas do tamanho de Itaipu, segundo a EPE. Atualmente, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) já registra 66 projetos que buscam permissão para explorar energia em águas marinhas, com potencial de geração de até 169 GW de energia, uma cifra impressionante dado que o país atualmente gera cerca de 180 GW de todas as fontes combinadas.
O Rio Grande do Norte, por exemplo, tem capacidade para instalar 54 GW de usinas eólicas offshore e ainda dobrar a geração eólica onshore, de acordo com o Atlas Eólico e Solar do RN, que identifica o potencial do estado para o desenvolvimento de projetos de energia eólica e solar.
Panorama nacional
O mercado de eólica offshore no Brasil deverá ser impulsionado por projetos de hidrogênio verde, especialmente aqueles que operam fora da rede de transmissão nacional (projetos off-grid). Prevê-se que o Brasil forneça cerca de 6% da demanda mundial de hidrogênio até 2050, com uma taxa de crescimento anual de 15% a partir de 2032, quando se espera que os primeiros projetos sejam iniciados. Apenas 20% das instalações de hidrogênio verde no país serão provenientes de projetos conectados à rede de transmissão.
Além disso, a energia eólica e a solar vem impulsionando a mudança da matriz energética brasileira para uma matriz mais limpa e sustentável. Reduzindo significativamente a utilização de fontes de energia poluentes.
Nesse cenário, a energia eólica offshore terá um papel crucial na economia do Brasil, destacando-se como líder global na exportação de energia. No entanto, ainda há muitos desafios a serem superados, incluindo questões regulatórias, demanda limitada de energia, infraestrutura de transmissão insuficiente, concorrência com outras fontes, necessidade de profissionais qualificados, financiabilidade de projetos e problemas na cadeia de suprimentos.
Investimento
Empresas petrolíferas, incluindo Petrobras, Shell e Equinor, demonstram grande interesse no segmento offshore, vendo-o como uma forma de descarbonizar seus portfólios enquanto aproveitam suas experiências em alto mar. Além disso, em dezembro de 2022, um acordo foi celebrado entre Shell e Eletrobras para a troca de informações e identificação de áreas para o desenvolvimento de projetos de energia eólica offshore.
Regulamentação
Avanços significativos já foram observados no licenciamento ambiental e na regulamentação para os projetos. Contudo, questões relacionadas à infraestrutura de transmissão de energia, cadeia produtiva nacional e custos ainda precisam ser abordadas. O crescente interesse do setor privado motivou o governo a emitir decretos que iniciam a regulamentação desse setor.
Em uma das portarias, o Ministério de Minas e Energia (MME), em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente, criou um portal para a gestão de áreas marítimas destinadas às usinas; uma segunda portaria estabelece diretrizes para a cessão onerosa de áreas para geração offshore. Os primeiros leilões estão previstos para este ano.
Importância da sustentabilidade para a geração de energia
O reconhecimento crescente de que o mundo enfrenta uma emergência climática impulsiona organizações a se engajarem mais em questões relacionadas a ESG (Environmental, Social, and Corporate Governance). Embora se espere que as organizações tenham estratégias ESG maduras, muitas ainda estão em um processo de aprendizado e evolução. A tendência de investimentos relacionados a ESG continua a crescer junto com os retornos. As empresas que negligenciam suas responsabilidades com a sustentabilidade podem ver uma deterioração nas classificações de investimento, acesso a capital, cobertura de seguro, rotatividade de funcionários, valor futuro e reputação no mercado. Para se manterem competitivas, as organizações devem levar a sério suas responsabilidades ESG e avaliar até que ponto seus valores estão alinhados com os do seu ecossistema.
Certificados de eletricidade renovável
A transição é alimentada por energia sustentável, visando à neutralidade de carbono, seja através de compensação ou, idealmente, pela redução das emissões. Os certificados de eletricidade renovável (RECs), embora não sejam considerados compensadores de carbono, garantem a geração de um MWh adicional de eletricidade renovável. A compra de RECs também apoia o mercado de energia renovável, fornecendo um sinal de demanda ao mercado, o que incentiva mais oferta de energia renovável. Assim, os RECs não apenas ajudam as empresas a atingir suas metas de emissão de gases de efeito estufa, mas também incentivam a geração de mais energia renovável.
Conferência das partes
Agendas importantes para discutir e definir os rumos da transição, as COPs (Conference of the Parties) são conferências anuais indispensáveis que têm como foco discussões sobre o clima do planeta. A COP26, ocorrida em 2021, marcou cinco anos desde a assinatura do Acordo de Paris e culminou no Pacto do Clima de Glasgow, mantendo viva a meta de conter o aquecimento global a 1,5ºC.
A COP27, realizada no ano passado, teve como objetivo iniciar o planejamento da implementação dos projetos pensados até então. Para o Brasil e para o segmento de geração eólica, o evento foi muito positivo, uma vez que pôde mostrar ao mundo a capacidade de geração de energia limpa do país, que possui uma matriz elétrica 84% renovável, em comparação com os 27% da média mundial. Até novembro de 2022, a geração de energia por usinas eólicas já havia produzido 22 GW, destacando também o grande potencial para a produção de energia eólica offshore.
Outros temas para ficar de olho no segmento da geração de energia eólica
Entre as tendências anteriores, surgem novos temas no segmento de energia eólica. O constrained-off de eólicas, que ocorre quando há uma solicitação para reduzir a geração das usinas devido a uma restrição operativa externa às instalações, ordenada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), será uma questão relevante. Isso geralmente resulta em prejuízos para as geradoras e, até 2021, não havia uma regulamentação para o ressarcimento. Contudo, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) publicou uma resolução (REN 927/21), posteriormente incorporada pela REN 1030/22, que estabelece parâmetros e regras mais claras sobre o direito de ressarcimento às geradoras eólicas.
Tecnologias para O&M
No âmbito de operação e manutenção de usinas eólicas, há sempre espaço para inovação e melhorias. A inteligência artificial (IA) e o aprendizado de máquina são tecnologias com grande potencial para contribuir nesse campo a curto prazo. Essas tecnologias permitem a detecção de anomalias e a previsão de falhas antes que ocorram, aumentando a eficiência operacional e reduzindo custos significativamente. Em geral, tecnologias voltadas para a coleta e disponibilização de dados de monitoramento da operação ou que contribuam para a gestão de indicadores de desempenho continuam sendo de grande relevância neste segmento.